De: Mayanna Velame
Uma folha em branco sobre a mesa. Uma caneta sem tampa, abandonada entre as páginas de um dicionário fechado. Dedos nervosos, de unhas ruídas tamborilam a escrivaninha repleta de papéis surrados. A imaginação não voa.
A garrafa de vinho seca se espatifa ao chão. Cacos de vidro são palavras despedaçadas. Cigarro aceso. Uma baforada e a fumaça encobre as ideias. Uma palavra é escrita, mas logo é apagada.
A cadeira está vazia. Passos soltos pelo apartamento. Silêncio, suspiros, suor, transpiração e inspiração. O relógio se mostra, os ponteiros dançam. O balé das horas é sempre melancólico. A mão alcança um lápis de ponta fina. Ele é levado até a boca, recebe a umidade dos lábios. Escrever é não desistir. Um corpo se debruça sobre a escrivaninha. Consoantes, vogais, frases, orações, períodos e parágrafos. Escrevemos para quê?
Palavras passeiam sobre a folha em branco. Personagens prisioneiros de suas atitudes involuntárias. Devaneios secretos, peripécias, reviravoltas… leitores. Um conto aberto, sem ponto final…
“Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo;
E mergulhando no velludo
Da poltrona que eu mesmo alli trouxera
Achar procuro a lugubre chimera,
A alma, o sentido, o pavido segredo
Daquellas syllabas fataes,
Entender o que quiz dizer a ave do medo
Grasnando a phrase: — Nunca mais.”
O Corvo – Edgar Allan Poe
Pego a pena para dizer da minha alegria nestas páginas.
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