CONTO DE TERROR: MARIONETE

– Por que sou assim? Ó meu Diviníssimo Senhor – Beto pensava nisso enquanto a dor tomava conta de seu corpo. 

O suor escorrendo por seu corpo, fazendo-o tremer, sem entender o que estava acontecer-lhe. Seu único desejo era correr e assim o fez… Sua turva visão parecia escurecer, isso se dava pelo sangue que saia de seus olhos. Não entendia nada, e a solidão de morar só o condenou junto ao relógio que marcava 3h da madrugada. Tudo isso em uma pequena cidade na paraíba onde todos dormem cedo. Quando enfim chegou à rua, puxou o ar com todas as suas forças e com suas unhas rasgava-se em desespero, como se estivesse em chamas infernais. Ali acreditou no inferno e se arrependeu por tamanho ateísmo, em seu desespero, clamou por Deus mais uma vez, mas em nada obteve resultado positivo. Mesmo assim, o desejo em clamar era como um instinto de um mortal sentindo a frágil vida se esvair como água nas mãos. Tentava gritar, mas a única coisa que escutava eram os pensamentos delirantes. A visão cessou e a única coisa que podia se apegar era a perfeita audição que naquele momento parecia melhor do que nunca. 

Perdendo as forças, cai de joelhos no chão e pode sentir o chão vibrar com passos pesados. Sem enxergar e desprovido de forças, aceita que o fim chegou.

“Mas se for ajuda?” – Pensamento que lhe deu esperança em meio aquela agonia, como quando se vai ao hospital e é logo atendido, ou quando não há filas estressantes em algum lugar. Aquilo era como açúcar, ou uma leve gota de chocolate que desce vagarosamente até servir de cobertura a um sorvete. O rapaz estica os braços, implorando por ajuda. Mas o que sente é uma dor lacerante em sua cabeça, como se uma microfuradeira estivesse fazendo um canal bem atrás do seu ouvido. O homem uiva, e nada pode fazer quando percebe que está imóvel. Aquele zunido vai furando e furando, fazendo o homem tremer-se em uma espécie de ataque epilético. Os seus olhos passam a revirar-se em meio ao sangue que lhe ofusca a visão. Seus dentes mordem a língua involuntariamente e o homem chora sangue.

Alfredo, um senhor de 74 anos, como de costume, acorda para fumar seu cachimbo noturno em meio ao canto dos morcegos. Marilda, sua falecida esposa, deixou-lhe este hábito, mesmo morta, o homem ainda respeitava a vontade de sua mulher não querer fumo dentro de casa. Quando ele finalmente pega o seu velho fumo e vai a varanda, estremece com uma sensação nova, ou tão antiga que lhe deixa tenso e ansioso. Então ele vê um rapaz nu, sorridente, com a pele limpa e branca, é Beto o seu vizinho.

– Ó meu Pai do céu, você não tem vergonha fil… – nesse momento ele sente algo diferente no garoto.

O jovem caminha em direção ao senhor que sente algo diferente, como se o ar tivesse extremante úmido e frio, algo anormal naquele lugar quente como é de se esperar do agreste. O jovem caminha na direção do velho e ele volta a falar até que o rapaz faz o sinal de silêncio com a mão erguida e meio trêmula. O senhor cala-se, mas o que realmente o fez calar foi uma falta de fôlego que fez sua garganta secar, sua visão passa a ficar turva e agora ele cai no chão, mas antes de perder a visão, enxerga que há mais alguém ali, uma sombra, um ser que amarrou fios no jovem e que ali o faz de marionete, aquele ser negro, de pele sangrenta, está a guiar Beto, tenta reagir, mas nada consegue. A criatura vai em direção ao velho.

– Marilda – foi a única coisa que o senhor conseguiu falar até receber o abraço de Beto que era guiado por algo indescritível. O homem chora sangue e sente a mesma furada por trás do ouvido. São as pregas da marionete humana. De sua casa, surge outra criatura que acopla os fios ao seu corpo, dando ao indescritível um sentido para viver. O procedimento acaba, as marionetes esboçam o que seus comandantes fazem e ali estão a beijar-se para depois voltarem aos seus quartos. Beto se despede de Alfredo, assim como as criaturas. Eles caminham e por um breve momento é possível ver a sombra demoníaca dos guiadores. 

A vida segue, mas os condenados não a viverão mais. 

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