CRÔNICA: UMA LEMBRANÇA APENAS

Temos a tendência de ser esquecidos, por amizades, parentes, colegas do ensino médio, amigos de infância que juraram estar junto da gente pela eternidade, um grande amor que se foi…

Estamos o tempo todo ali, esperando ser lembrados, receber uma ligação, um carinho de um amigo próximo, ser novamente convidado para uma noite do pijama com sua melhor amiga.

Porém, o tempo passa, e tudo muda, o que era importante naquela época se torna insignificante.  Mas não para mim, que me sinto sozinha, deslocada, sem saber como cheguei naquele estado, como me afastei tanto das pessoas que mais me faziam sorrir, não sei ao menos quem se afastou, foi algo tão automático. 

Eu amava a minha vida, era feliz, alegre, queria viver intensamente cada momento, viver amores como nos filmes, fazer viagens inesquecíveis com minhas melhores amigas, ser uma popstar, uma cineasta, jornalista, advogada. 

Os sonhos fluíam dentro de mim, sentia que poderia ser o que eu quisesse. Era determinada, corria atrás das coisas que eu queria sem exitar, sem medo. 

Que saudade de quem eu era! Me sentia viva, amada, me sentia a heroína dos meus amigos, a que contava as piadas mais engraçadas, a que defendia elas dos valentões do colégio. Era a líder do meu bando, corríamos, passávamos noites em claro, pagávamos micos em público e participávamos das bagunças coletivas quando serviam bolo com Chantili na escola. 

Mas, de repente tudo sumiu, escapou entre os meus dedos como água. Me vi sozinha, me sentia insuficiente, insignificante, como se eu fosse um problema para todos. 

Perdi minha confiança como se perde um objeto qualquer, passei a mendigar atenção. 

Onde foram parar? Meus amigos que me amavam, que se divertiam em minha presença, que prometeram nunca me deixar?

Um dia deixei de ir atrás, e ninguém mais se comunicou comigo, tinham outros amigos, se divertiam de outras formas e eu virei apenas um lembrança velha e empoeirada no fundo da memória deles, aquela memória que queriam esquecer a qualquer custo.

Mas um dia sem aviso, sem comunicar ninguém,  eu parti.

O choque foi ensurdecedor, eles se desesperaram, choraram, gritaram diante do caixão onde meu corpo gélido, já sem vida repousava. 

E eu chorei, mesmo não estando mais em vida eu chorei, por que eles não me procuraram em vida?

Por que estavam chorando e sofrendo tanto? Foi tão importante assim na vida deles? 

O grande amor da minha vida, aquele que gritava aos quatro cantos do mundo que me odiava, que me difamou, manchando todos os nossos momentos juntos, estava ali aos prantos, desolado, gritando que me amava, que sempre me amou. Pedia para eu voltar para os seus braços, que aquilo fosse uma piada. 

Mas era tarde…

Por que não se lembraram de mim em vida?

Quem não se lembra de você em vida, não te esquecerá depois da sua morte.

Porém, será uma lembrança apenas.

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