CONTO:   A GAROTA E O CACHORRO

Na verdade, não sei o que deu em mim, o fato é que desde a primeira vez que vi aquela mulher eu fiquei louco.

Um corpo lindo, perfeito, que me deixou tão impressionado que eu mal consegui dormir por duas noites. Bendita hora em que eu e Isabel decidimos alugar um chalé para passarmos uma semana com nossos dois filhos Bernardo e Lucas, de 3 e 1 ano e meio respectivamente. E lá estava eu, no primeiro dia por volta das 16 horas,  esticado em minha cadeira de praia, e Isabel brincando de fazer castelo de areia com as crianças. Quando aquela sereia passou,  tendo a frente seu cachorro que correu direto para a água, latindo e todo alegre. Por trás de meus óculos escuro observava seu andar, o cachorro nem lembro a raça, muito menos a cor, mas dela…ai meu Deus. 

No primeiro dia, dentro de um biquini estampado, cabelos soltos e dourados, corria para lá e para cá com o animal. Mal sabia ela que um outro animal faminto de paixão, a observava. Eu e minha família, não ficamos à beira da praia, e sim, num declive, para segurança das crianças, mas, que me dava uma ampla visão de tudo.

Ela brincou por volta de uma hora e depois foi embora. No segundo dia, aconteceu a mesma coisa, estava dentro de um micro biquini azul e  aconteceu mesma coisa, o horário, as brincadeiras, e eu estava simplesmente babando por aquela mulher.

 No primeiro dia, fui pego de surpresa e não pude ver seu rosto, mas no segundo dia, embora não tivesse a certeza de que ela iria aparecer, fiquei na expectativa. E quando  apareceu, mais que depressa olhei no seu rosto, o resto ia ver depois calmamente. E como era linda, ela não passou distante de mim, então pude ver que seus olhos eram verdes, cabelos longos, castanho claro, mas com luzes douradas. Sei que se chama luzes, porque minha mulher faz isso nos cabelos. 

No terceiro dia, fiquei esperto, ia fazer qualquer coisa para ter aquela mulher, fingir que ia nadar, escrever um bilhete, mas ia marcar um encontro com ela.

Foi então que fechei meus olhos, imaginando minha boca naquela boca, minhas mãos tocando todo o corpo dela e senti um toque nos meus ombros.

-Oi

Abri os olhos e não acreditei, ela estava ali na minha frente, mas, há poucos metros, minha mulher brincava com as crianças. Assustado, mas, feliz, respondi, esticando o pescoço para o lado de minha mulher.

-Oi…Respondi e ao longe avistei o cachorro correndo na beira da praia.

-Eu fiquei curiosa, e vim te conhecer. Me chamo Paula e minha cachorra Pandora.

-Eu…eu…me chamo Joaquim. Respondi morrendo de medo que Isabel me visse conversando com aquela maravilha de escultura, mas continuei…

 -Poxa, então você me via te olhando quando passava? Falei baixinho, esticando o pescoço para o lado de minha esposa.

-Impossível não olhar para um deus grego como você.

-Que é isso? Minha esposa é ciumenta, se ela te vir aqui, acaba com você.

A moça ri gostosamente da situação e fala.

-Distraída como está, não me verá. Mas eu não vim aqui  para conversar, e sim, fazer amor com você.

Agora me assustei. Como fazer amor ali, na presença de minha esposa e meus filhos.

-Não! Se quiser poderemos nos encontrar em um motel ou hotel, você escolhe, mas aqui não, está maluca ou o que?

-Maluca. E me dá um beijo longo na boca. Não teve como não corresponder, eu estava louco para que acontecesse esse beijo. Mas, com meus olhos na direção de minha família.

E a coisa foi mais além, ela me apertava, subiu em cima de minha cadeira, parecendo uma cadela no cio, e perdi meu controle total, em pensamento mandei Isabel para o inferno e fizemos amor ali mesmo. Foi a coisa mais sensacional que me aconteceu, nunca nos meus 44 anos, tinha vivido uma experiência como aquela. 

-Quero você para mim, estou louco de paixão.

-Eu também, mas não fique olhando muito para sua mulher, olhe para mim, te quero.

E mais uma loucura aconteceu, me perdi na boca e no corpo daquela mulher, tão fantástica, tão maravilhosa, tão…

-Joaquim, meu amor, acorda. Já está escurecendo e as crianças precisam tomar banho e jantar.

-Hein? Ah! Isabel? Claro, vamos sim. Nossa escureceu mesmo. Me levantei totalmente decepcionado.

-Você adormeceu profundamente, babava e falava. 

Ao longe avistei Paula com sua cachorra Pandora, correndo e brincando. Foi então que ela acenou para mim e fez um coração com as mãos. Sem entender nada, acompanhei minha família de volta ao chalé.

Naquela noite não dormi de tanta emoção, tudo tinha sido tão real, mas, eu estava na verdade sonhando. Mas entendi que ela estava a fim de mim, me acenou e mandou um coração. Amanhã irei sozinho e falarei com Paula.

E assim foi…Não demorou muito, ouvi o latido de Pandora, porém na companhia de um senhor, que percebi ser o pai dela. Com o coração acelerado, fiquei olhando o homem caminhar com a cachorra, mas Paula não apareceu.

Decepcionado, fui tomar uma água de coco no quiosque e vi o homem retornando com a cachorra, o olhar meio perdido.

-Coitado do senhor José. Fala o dono do quiosque chacoalhando a cabeça.

-Que houve com ele?

-Enterrou a filha ontem. 

-Quê? Como assim?

-A filha dele, foi fazer um passeio de barco com amigos, acho que todos estavam  bêbados e dizem que ela se desequilibrou e caiu em alto mar. Encontraram o corpo quinze dias depois. Ontem foi o sepultamento dela…

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