Pulmão – Nicole Ayres

Quantas vezes

Eu quis gritar

E silenciei

Quis falar

E travei

Quis fugir

E paralisei

Quantas vezes

Engoli o choro

Forcei o sorriso

Reprimi o prazer

Ri sem vontade

Soquei as paredes imaginárias do coração

Quantas vezes

Corri de mim mesma

Tentando me alcançar

Ignorei meus instintos

Debochei dos sentimentos

Levei a sério demais os pensamentos

Quantas vezes

Deixei de ser quem sou

E optei por versões mais apresentáveis de mim mesma

Passei dos meus limites

Pode passar por cima

Eu não importo

Sou um móvel no canto da sala

Imóvel

Quantas vezes

E quantas vezes mais

Vou me violentar

Com acúmulo de tarefas

Pessoas tóxicas

Ambientes aos quais não pertenço

E me obrigo a ficar

Por teimosia

Quantas vezes

E quantas vezes mais

Até o pote encher

A bomba estourar

E eu implodir

Mais uma vez

A gente não tem que aguentar

Relevar

Menosprezar

O que sente

Deixar as feridas abertas

Até necrosar

A mente engana

Mas o corpo sabe

E aos poucos revela

A cura

Que já está em nós

Publicidade

Um comentário em “Pulmão – Nicole Ayres

Adicione o seu

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Site desenvolvido com WordPress.com.

Acima ↑

%d blogueiros gostam disto: