
Quantas vezes
Eu quis gritar
E silenciei
Quis falar
E travei
Quis fugir
E paralisei
Quantas vezes
Engoli o choro
Forcei o sorriso
Reprimi o prazer
Ri sem vontade
Soquei as paredes imaginárias do coração
Quantas vezes
Corri de mim mesma
Tentando me alcançar
Ignorei meus instintos
Debochei dos sentimentos
Levei a sério demais os pensamentos
Quantas vezes
Deixei de ser quem sou
E optei por versões mais apresentáveis de mim mesma
Passei dos meus limites
Pode passar por cima
Eu não importo
Sou um móvel no canto da sala
Imóvel
Quantas vezes
E quantas vezes mais
Vou me violentar
Com acúmulo de tarefas
Pessoas tóxicas
Ambientes aos quais não pertenço
E me obrigo a ficar
Por teimosia
Quantas vezes
E quantas vezes mais
Até o pote encher
A bomba estourar
E eu implodir
Mais uma vez
A gente não tem que aguentar
Relevar
Menosprezar
O que sente
Deixar as feridas abertas
Até necrosar
A mente engana
Mas o corpo sabe
E aos poucos revela
A cura
Que já está em nós
Se é necessário muita coragem pra ser o QUEM realmente é. Muitos, se não a grande maioria, como o eu-lírico aí, sofre horrores pra perceber o que sempre teve dentro de si.
CurtirCurtir